Palestinos deixam o bairro de al-Karama, em Gaza
Mahmud Hams / AFP – 11.10.2023
Israel anunciou na noite de terça-feira (10), que havia retomado o controle das áreas em torno da Faixa de Gaza e seguiu bombardeando o enclave, contra o qual declarou um cerco total em uma guerra que já deixou milhares de mortos desde a ofensiva lançada no sábado pelo movimento islamita Hamas.
“Já estamos em meio à campanha, mas isto é apenas o começo. Venceremos com a força, com muita força”, advertiu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na noite de segunda-feira (9).
Israel demorou três dias para recuperar totalmente as áreas que o Hamas havia tomado em um ataque surpresa na madrugada de sábado (7), tempo mais longo do que o esperado, segundo análise do jornal Al Jazeera.
O número de vítimas em Israel subiu para mais de 1.200 mortos, incluindo muitos estrangeiros, revelou o Exército israelense na noite de terça-feira (10). Do lado palestino, 1.055 pessoas perderam a vida nos bombardeios israelenses em Gaza. Quatro jornalistas palestinos perderam a vida em um bombardeio israelense na cidade de Gaza.
‘Cerco total’
Na segunda-feira, Israel impôs um “cerco total” à Faixa de Gaza para que não chegue ao território “nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás”, nas palavras de seu ministro da Defesa.
Além disso, ordenou a seus cidadãos que evacuem todas as localidades no entorno de Gaza, gerando temores de uma iminente ofensiva terrestre neste pequeno território de 360 km², onde 2,3 milhões de palestinos, já sob bloqueio israelense há 16 anos, vivem de forma precária.
Por sua vez, o Hamas ameaçou executar os cerca de 150 reféns sequestrados em Israel, incluindo crianças, mulheres, idosos e os jovens capturados em um festival de música eletrônica.
Os milicianos mataram 250 pessoas nesse festival.
Outro massacre ocorreu no kibutz de Beeri, onde foram mortas “mais de 100 pessoas”, informou à AFP um porta-voz da ONG Zaka, que participou da identificação das vítimas.
O Hamas lançou mais de 5.000 foguetes durante sua incursão, de uma magnitude sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948.
Netanyahu comparou o ataque do Hamas às atrocidades cometidas pelo grupo Estado Islâmico (EI): “os terroristas do Hamas amarraram, queimaram e executaram crianças (…) São selvagens. O Hamas é o EI”, declarou.
Mais tarde, Netanyahu disse que o ataque do Hamas contra Israel é de “uma selvageria nunca vista desde o Holocausto”, em uma conversa por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
No hospital Al Shifa, que atende a população do enclave, a situação é catastrófica.
“Estamos tratando de muitos feridos, principalmente mulheres e crianças que chegam ao mesmo tempo”, disse à AFP o médico da emergência Mohammad Ghoneim, sendo interrompido pela chegada de novos feridos: três mulheres, duas crianças, um idoso e dois jovens.
Na segunda-feira, o Hamas ameaçou executar os reféns sequestrados em Israel.
“Cada ataque contra nosso povo sem aviso prévio será respondido com a execução de um dos reféns civis”, advertiu o braço armado da organização islamita.
Na terça-feira, o Hamas relatou que dois de seus líderes foram mortos nos ataques israelenses.
Tratam-se de Zakaria Muammar, responsável pelos assuntos econômicos de Gaza, e Jawad Abu Shamala, que coordenava os contratos com outros grupos palestinos e atuava como chefe de relações nacionais do Hamas.
Críticas a Biden
O grupo islamita palestino acusou o presidente americano, Joe Biden, de “tentar encobrir os crimes de Israel” com seus comentários “inflamados” sobre o ataque sem precedentes em território israelense, que o mandatário americano classificou como um ato de “pura maldade”.
O Exército israelense bombardeou o posto fronteiriço de Rafah, que liga a Faixa de Gaza ao Egito, três vezes em 24 horas. Este ponto é a única saída do enclave palestino que não está sob o controle de Israel.
Pelo terceiro dia consecutivo, Israel foi alvo de disparos de foguetes do sul do Líbano e respondeu bombardeando essa região. Esses últimos ataques foram reivindicados pelas brigadas Al Qasam, braço armado do Hamas.
O Exército israelense anunciou nesta terça-feira que disparou obuses contra a Síria desde as Colinas de Golã em resposta a “disparos” de projéteis contra este território ocupado por Israel desde 1967.
A ONU alertou que o “cerco total” imposto por Israel a Gaza é “proibido” pelo Direito Internacional Humanitário e que, desde o início deste confronto, mais de 187.500 pessoas dentro da Faixa de Gaza foram obrigadas a deixar o local.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu, por sua vez, a abertura de um corredor humanitário na região para permitir o envio de material médico essencial à população.
A União Europeia (UE) também criticou essa decisão.
No Irã, o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, negou mais uma vez o envolvimento de seu país na operação do Hamas, ao mesmo tempo em que reafirmou o apoio “à Palestina”.
Os Estados Unidos, que começaram a enviar ajuda militar a Israel no domingo e a posicionar sua frota aérea-naval no Mediterrâneo, estão prontos para enviar recursos adicionais “para fortalecer sua dissuasão” diante do aumento da tensão regional, afirmou o presidente Biden.