Valter Campanato/Agência Brasil
O preço do dólar disparou em junho pressionando ainda mais a inflação, que acumula alta de 11,73% nos últimos 12 meses. Os mais afetados pelo aumeno da moeda são os produtos agrícolas e o petróleo, cotados em dólar no mercado internacional, além de encarecer também bens importados.
A moeda norte-americana subiu 9,11% em junho até o momento, o valor do dólar tem variado em torno de R$ 5,15, esse é o maior patamar desde de fevereiro. Na última semana, a variação foi de 3,31%. Já na segunda-feira (20), o dólar encerrou em alta (0,85%), sendo negociado a R$ 5,18, e, na terça-feira (21), recuou 0,67%, a R$ 5,15.
Segundo o economista do Índice de Preços ao Consumidor da FGV, André Braz, o dólar pressiona os alimentos de duas maneiras. “As commodities, cotados em dólar no mercado internacional, podem subir porque a nossa moeda desvalorizou ou porque o preço avançou. Os dois fenômenos inclusive podem acontecer ao mesmo tempo”, explica.
“Soja, trigo e milho, por exemplo, são alimentos com preços estabelecidos internacionalmente. Não importa que o Brasil é um dos maiores produtores desses grãos. Então, se o real desvaloriza e segue desvalorizado, isso acaba encarecendo toda a família de derivados. A ração dos animais que a gente consome leva esses grãos. Suínos, bovinos e aves têm custo de criação aumentado”, completa o economista da FGV.
O trigo, que teve uma queda na oferta, também fica mais caro quando o dólar sobe. “A guerra entre Rússia e Ucrânia gerou uma dificuldade de escoamento desse produto, que sofreu ainda com embargos que o Brasil. Então subiu muito o preço do trigo e todos os seus derivados, como pão, biscoito macarrão, ente outros”, afirma Braz.
Segundo Nadja Heiderich, professora e coordenadora do Núcleo de Estudos da Conjuntura Econômica da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), o trigo é o alimento mais importado pelo Brasil, mas há ainda outros produtos usados no dia a dia do brasileiro que também são impactados pelo dólar.
“O Brasil exporta muitos alimentos in natura para adquiri-los processados, como o grão de café e o pó de café, e a laranja e o suco de laranja. Uma parte do arroz e feijão também é importado para que seja possível suprir nossa demanda interna, mesmo sendo nós grandes produtores”, destaca.
A economista lembra ainda que a indústria tem um aumento de custos com a alta da moeda americana. “Toda categoria que precisa de insumos e matéria-prima importados é impactada negativamente pelo dólar”, explica.
“Mesmo que mesmo que esses produtos não aumentem no país de origem, a desvalorização do real faz com que o aumento seja sentido no Brasil”, complementa Heiderich.
Segundo Heiderich, a variação do dólar encare o petróleo, que é importado pelo Brasil. “Por mais que sejamos suficientes na extração do petróleo bruto, a gente envia o produto e traz refinado. A gente não tem ainda refinarias que possam lidar com esse problema”, afirma.
O aumento do preço do combustível tem extenso efeito sobre toda a cadeia de produção e a inflação. “Se o dólar aumenta, o preço da gasolina e do diesel é reajustado. A alta do combustível irradia para toda a economia, porque tudo que a gente produz precisa transportar”, explica a professora da Fecap.
A desvalorização do real frente ao dólar beneficia a exportação, o que também colabora para o aumento de preços. “Com a nossa moeda mais barata, o Brasil passa a exportar muito a mais, é como se nossos produtos entrassem em promoção. Eles ficam muito mais baratos para quem compra mais. Isso é bom para a balança comercial, mas é desafio a mais para a inflação. À medida que a gente exporta, falta para o mercado doméstico. A carne bovina é um exemplo disso, ela subiu muito de preço tanto para China quanto para gente, mesmo o Brasil tendo o segundo maior rebanho de bovinos do mundo”, explica Braz.
A valorização do dólar no Brasil vai na direção contrária ao comportamento da moeda no restante do mundo. O motivo principal é o temor do mercado quanto uma possível intervenção do governo na Petrobras e outras medidas cogitadas pelo Congresso para conter o preço dos combustíveis. Além da aversão ao risco de investidores, por conta de ameaça de recessão e da guerra na Ucrânia.
Para o professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e economista-chefe da G11, Hugo Garbe, existe a chance de a moeda romper a barreira dos R$ 5,20. “Os Estados Unidos estão subindo os juros e isso incentiva os investidores a tirar dólar dos países emergentes e aplicar lá, que tem teoricamente a economia mais segura do mundo, porque agora o dinheiro deles terá uma remuneração maior e o risco é menor. Tem também as eleições que estão se aproximando e são, historicamente, um período de incertezas.”
*Estágiaria so R7, sob supervisão de Ana Vinhas